É
por excelência o mistério que nossa sacrossanta Religião encerra com grande
sigilo, sem o qual não seria a única religião ou Igreja instituída por Nosso
Senhor Jesus Cristo. É, ao mesmo tempo, a pedra angular sobre a qual se
edifica a religião católica, a este dogma só se pode aceder através da FÉ, ou
seja, através do nosso consentimento a esta grande verdade revelada pelo
próprio Jesus Cristo nas Sagradas Escrituras, não há nada mais distante do
nosso entendimento do que este belo mistério da Santíssima Trindade.
Portanto,
não há dogma mais difícil de expor do que este e dele só se pode ter uma pálida
ideia através da nossa fé e onde a nossa inteligência sem ela nada pode fazer.
É
certo e de fé divina que não podemos provar apenas pela razão natural a existência
de procissões reais em Deus (se assim for, mais difícil será explicar a sua
essência). No caso de provar a existência dessas processões divinas apenas
com a razão natural, elas deixariam de ser o que são, isto é, transcendentais e
sobrenaturais como o próprio ser íntimo de Deus. Por isso, para chegar ao
seu conhecimento, contamos apenas com o testemunho da revelação divina,
autenticamente interpretada e proposta pelo infalível magistério da
Igreja. Nas coisas que excedem a nossa capacidade natural, é dever da
nossa razão conformar-se com o divino, submetendo-se a ele e dando-lhe
assentimento pela FÉ. A teologia tem o sagrado dever de explicá-los da
melhor maneira possível,
São
Tomás, tratando das procissões divinas, contenta-se em afirmar que "a Sagrada
Escritura usa nomes e expressões que significam procissões para designar as
pessoas divinas", recolhendo depois num texto o sentido da revelação, cujo
conteúdo integral continua explicando teologicamente, nós, por enquanto,
deixamos o sentido teológico por falta de espaço e tempo.
Os
nomes que as Pessoas divinas expressam na Sagrada Escritura manifestam, com
efeito, a existência em Deus de duas processões diferentes. Assim, a
primeira pessoa recebe o nome de Pai (Jo 17, 6). O segundo recebe nomes
diferentes, todos expressando a mesma ideia de proveniência do Pai por geração
verdadeira e própria. E estes são: Filho
de Deus por natureza (Mt. 3, 17), Unigênito do Pai (Jo. 1, 14: 3, 16 etc), Verbo (Jo. 1, 1: apoc. 19, 13), Imagem de Deus, figura de sua substância (II.
Cor. 4,4: Col. 1, 15; Hebr. 1, 3).
Não
há dúvida de que todos esses nomes da segunda pessoa da augusta Trindade
indicam a origem ou proveniência do Pai, razão pela qual só podem ser
atribuídos com plena propriedade. Porque o Filho de Deus por natureza é
dito na Sagrada Escritura daquele que recebe do Pai por geração
verdadeira. Por isso, o nome de Pai é aquele que Jesus Cristo usa
constantemente ao referir-se a Deus (Jo 8,1; 21,24 etc.), para significar a
íntima relação de paternidade, que não é outra senão a de origem para
verdadeira geração na unidade da natureza ou essência divina (Jo. 8, 15; 19,
30; 14, 24; 16. 3, 24 etc). Como esta comunicação da natureza é muito
plena, total e única porque está na mais absoluta identidade de essência, o
Filho também é chamado de Unigênito. Também se diz Verbo, porque
procede do ato de compreender a essência divina do Pai. Da mesma forma,
sendo a essência do Filho a expressão perfeita da própria natureza do Pai, ela
também é propriamente chamada de Imagem, Esplendor, Figura da substância do
Pai.
A
terceira pessoa divina é designada na Sagrada Escritura com um nome muito
diferente da segunda. Esses nomes são: Espírito
Santo (Mt. 28,19 etc), Amor (I
Jo. 4, 7-8; Rom. 5, 5), Dom (Jo.
7, 38; 4, 10 S; Atos. 2, 38 etc.), Advogado
e Espírito da Verdade (JN. 14, 15-19; 15, 26) e mais orações
secundárias. Ao contrário da segunda pessoa, nunca se diz da terceira
pessoa nas Sagradas Escrituras que ela é gerada, mas que procede.
Pelo
que se manifesta claramente que tem outra origem que não a de Deus. Esta
distinção consiste no fato de que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho
(como confessamos no Credo dos domingos e feriados da I e II classes nas
Missas), e sua origem não tem uma razão de geração como aquela do Filho.
Assim
ensina o próprio Jesus Cristo por meio de São João: "Quando vier o
Advogado que eu enviarei do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, Ele
dará testemunho de mim" (15, 26). Um pouco mais adiante,
acrescenta que procede também do Filho, nos seguintes termos: "Quando
vier, o Espírito da Verdade, vos conduzirá à verdade completa, porque não
falará de si mesmo, mas falará do que ele ouve, e ele vai falar com você."
anunciará as coisas que estão por vir. Ele me glorificará porque receberá
do que é meu e fará você saber; porque vos disse que tomaria do que é meu
e vo-lo daria a conhecer” (Jo 14, 13-15).
Ou
seja, o Espírito Santo recebe do conhecimento do Filho. Mas a ciência em
Deus é realmente identificada com a essência divina. Portanto, dizer que o
Espírito Santo recebe do Filho é tanto quanto dizer que realmente procede Dele.
E como, por outro lado, também se diz que procede do Pai, segue-se que a
processão o Espírito Santo é realmente diferente daquele do Filho e, portanto,
que não é uma geração, que é única em Deus. Daí os vários nomes que recebe
na revelação divina.
Assim,
segundo a revelação divina, há em Deus duas processões diferentes, a do Filho e
a do Espírito Santo, da qual ele é a verdadeira geração e não a segunda. O
Pai não vem de ninguém, mas é o princípio de toda a Trindade, e assim também se
distingue verdadeiramente das outras pessoas divinas, que vêm d'Ele. Ou seja,
só há duas procissões do mesmo Deus, porque há são apenas três pessoas
diferentes em um Deus verdadeiro, e há duas ações imanentes segundo as quais
elas são verificadas. Não é um assunto fácil de tratar da Santíssima
Trindade, é um assunto do qual apenas se dá uma noção muito breve e mesmo assim
é uma pálida expressão das dimensões infinitas que este belo assunto realmente
abarca, mas ao mesmo tempo misterioso e dogmático.
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